Uelcimar Santos - Senac-BA

Para começar a falar deste preparo, início dizendo que não existe uma receita pré-definida, e é justamente por isso que a moqueca de ovo que minha mãe fazia não tem igual. Para referenciar irei ao final deste descrever a minha percepção do que talvez fosse a receita que ela usa, visto que, o ingrediente principal era o amor e o prazer de cozinhar para os parentes, e seus filhos que representava sua maior dádiva: ser mãe.

O comum era a reunião de família na Sexta Santa, reunião essa que se estendia até o domingo de Páscoa, quando à noite todos os cômodos da casa se transformavam em dormitório. Em função da redução dos custos, era de praxe que se corresse uma lista das iguarias que comporiam a mesa. Apesar do contexto religioso contemplar um período de jejum, era o dia de maior fatura na família, com acompanhamentos: arroz de coco, caruru, vatapá, farofa branca e amarela, banana da terra frita, feijão fradinho e feijão de leite (meu preferido).

Dentre os pratos quentes reinavam as moquecas: de bacalhau, camarão, vermelho de rabo aberto, e frutos do mar, sem falar a famosa frigideira de bacalhau de minha tia avô Mariazinha, feita com mamão verde de seu quintal. Nem precisava, depois de tanta comida, mais o pudim de leite da tia Arlete, madrinha do meu irmão mais velho não podia faltar, para a alegria das crianças e adultos também.

As crianças menores eram logo cedo alimentadas, e somente depois os adultos se apertavam à mesa. Para completar não podia faltar o vinho doce de mesa e o pão referenciando a transubstanciação do corpo e sangue de Jesus Cristo no ato da consagração, fortalecendo a doutrina da presença real de Cristo na Eucaristia. Esse era o momento das histórias do período da infância dos mais velhos que aguçavam a curiosidades dos mais novos, e assim se passava o dia e entrava pela noite.

Apesar da fartura na mesa, não sobrava muita coisa, pois a comida, nunca era só para alimentar a família, mas, também amigos e vizinhos que fossem chegando. Daí, como padrão, reuniam todas as sobras de caldos das moquecas em um único tacho grande, com vestígios de camarão, sururu, sarnambi e chumbinho; das espinhas do bacalhau e do vermelho catado, se retirava todo e qualquer apara de carne. Se banana da terra sobrasse, também era adicionada ao caldo para o preparo da Moqueca de Ovo. Pode-se pensar que era difícil conseguir um bom resultado final, visto que se tratava de vários pratos feitos por diferentes pessoas.

O sabor e qualidade das moquecas eram garantidos, pois ninguém queria ‘cair na língua’ de minha avó paterna por uma comida que não estivesse bem feita. Daí a indicação da compra do azeite na barraca de Sr. Valter, o camarão, tinha que ser em D. Nena, os temperos e demais legumes com Sr. Bira, e por aí seguiam as indicações.

Caldo das sobras de moqueca que fervia ao fogo de um lado e os ovos de galinha de quintal que minha avó, D. Nair, trazia de sua criação. Quantos? Não havia contagem, o que tinha virava no mar de caldo das moquecas do dia anterior reservando alguns poucos que eram colocados sem partir a gema por cima juntamente com rodelas finas de tomates, pimentões e cebolas, e sempre tinha o mamão verde que era cozido antes de se misturar a tudo e para finalizar, o preparo era agraciado com coentro que exalava seu perfume pela casa.

Suposta receita da MOQUECA DE OVO DA FAMÍLIA

INGREDIENTES
  • Sarnambi, camarão, sururu e chumbinho: 50g (cada)

  • Bacalhau e de vermelho: 100g (cada)

  • Azeite de oliva: Azeite de oliva

  • Cebola fatiada: 3 xícaras (chá)

  • Alho picado: 3 dentes

  • Tomates fatiados: 2 xícaras (chá)

  • Leite e coco grosso da fruta: 2 xícaras (chá)

  • Mamão verde cozido: 1

  • Banana da terra cozida ou frita: 500g

  • Pimentão verde em rodelas: 1 xícara (chá)

  • Azeite de dendê: 3 colheres (sopa)

  • Marisco na casca: 250g

  • Cheiro Verde picado: 1/2 xícara (chá)

  • Suco de limão: A gosto

  • Sal: A gosto

  • Pimenta de cheiro: A gosto

ACOMPANHAMENTOS

Servir com a sobra do arroz e/ou farofa.

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