Vanessa Santos – SENAC-CE
Mercado é lugar de costumes que perduram, de tradições que diversificam e coexistem com as mudanças de hábitos e transformações sociais mais amplas. Nos mercados, em geral, são realizados diversos tipos de serviços capitaneados pelo abastecimento de gêneros alimentícios, mas também de utensílios variados, vestuário, artigos religiosos, artesanato, remédios oriundos das práticas medicinais populares, dentre outros.
No que concerne à alimentação, cada mercado oportuniza a descoberta e apreciação dos aromas e sabores representativos da cultura alimentar do povo de determinada região. Como centro de abastecimento, revela os tipos mais comuns de alimentos e insumos consumidos. Como espaço de convivência, oportuniza, em seus restaurantes, a degustação de pratos que estão diretamente relacionados às bases culturais da sociedade, aquilo que comumente se denomina “comida típica”.
Atualmente, os grandes mercados públicos encontram-se em espaços fechados, mas muitos deles nasceram a céu aberto, em praças e logradouros. Por isso, é possível afirmar que o hábito de comer em mercados públicos está intimamente ligado ao universo da comida de rua, que no Brasil persiste desde os tempos do Império.
O Mercado de Ferro da Praça Carolina, destinado à venda de carne fresca, localizado entre as atuais ruas São Paulo, Floriano Peixoto, Sobral e General Bezerril (Centro), foi inaugurado em 18 de abril de 1897, e desativado em 1937. A sua bela estrutura de ferro em art nouveau foi dividida em duas partes destinadas à construção de outros mercados: o Mercado dos Pinhões, na praça Visconde de Pelotas, na Aldeota; e o Mercado São Sebastião, na praça Paula Pessoa.
O Mercado dos Pinhões preserva ainda hoje a estrutura original e na mesma localização. O Mercado São Sebastião, por sua vez, conservou sua estrutura de ferro até 1968, quando esta foi desmontada e enviada para a constituição de um novo mercado, no bairro Aerolândia. Atualmente, ainda se encontra neste local, após restauração.
No final da década de 60, o Mercado São Sebastião ganhou galpões de alvenaria com telhas de amianto. Essa estrutura permaneceu intacta até a década de 1990. Naquele momento, o Mercado ganhou sua forma atual, principalmente em alvenaria, por meio da reforma promovida pelo então prefeito Juraci Magalhães, em 1997, com projeto do arquiteto Fausto Nilo. Atualmente, mantém-se como rico e variado Polo Gastronômico, oficializado em 2012, pela então prefeita Luizianne Lins.
Reformado e preservado, o Mercado dos Pinhões é palco de uma programação artístico-cultural rica e variada, com mostras gastronômicas, feiras de produtos orgânicos e feiras de artes.
Em 2008, o Mercado dos Pinhões foi tombado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza por meio do Decreto Municipal 12.368 de 31 de março, e o Mercado da Aerolândia por meio do Decreto Municipal 12.408, de 16 de junho.
O tombamento evidencia o reconhecimento público do importante papel que os mercados municipais desempenham na vida comunitária, de forma mais complexa do que na manutenção das simples relações de compra e venda neles encontradas. Nessa perspectiva, sua função social e comunitária ultrapassa aquelas de cunho econômico, de escoamento da produção agrícola, artesanal e industrial, relacionando transações financeiras a diversos fatores e arranjos socioculturais.
Por isso, proliferam atualmente análises do mercado municipal como um espaço de vivência e de construção de identidades culturais. “O lugar (…) é um objeto carregado de valor e de sentido, ‘um centro de valores e sentidos’ pela subjetividade dos indivíduos e dos grupos” (BOSSÉ, 2004, p. 166). Buscar a compreensão das relações sociais que constituem o mercado municipal, sem reduzi-las à mera dimensão comercial, provoca a formulação de análises acerca das relações simbólicas e intersubjetivas no/com o lugar. É nele que o povo nordestino tem reforçado laços comunitários, formando percepções do espaço social e de suas dinâmicas específicas.
Segundo Archela, “como parte do espaço, o lugar é ocupado por sociedades que ali habitam e estabelecem laços tanto no âmbito afetivo, como também nas relações de sobrevivência. (…) O lugar é o espaço que se torna familiar às pessoas, consiste no espaço vivido da experiência” (s/d, p. 129-130).
Há no mercado municipal, muitas vezes, o encontro entre o urbano e o rural, por meio de contatos diretos entre pessoas oriundas de diversas realidades, assim como de diferentes classes sociais, tecendo relações interculturais, em alguns casos até mesmo de amizade (ARAÚJO e BARBOSA, 2004). Encontram-se, dessa forma, em jogo no mercado, concepções de mundo e de vida, diferentes representações sociais acerca da cultura material e simbólica, assim como acerca do próprio lugar estruturado concretamente, ou seja, do “espaço mercado” e dos sentidos que o revestem, em face dos diversos agentes sociais que nele interagem.
Do mesmo modo, o antropólogo Clifford Geertz parte do princípio de que o bazar é uma instituição central para a cultura marroquina, assim como para todo o Oriente Médio. “O que a burocracia mandarim representava para a China clássica e o sistema de casta para a Índia clássica – a parte mais evocativa do todo – o mercado era para as sociedades mais pragmáticas do Oriente Médio clássico” (GEERTZ, 1979, p. 123).
O objetivo do autor é a caracterização do mercado como “um sistema diferenciado de relações sociais centralizado na produção e consumo de bens e serviços (isto é, um tipo especial de economia), que merece ser analisado como tal” (GEERTZ, 1979, p. 124). Por isso, segundo o autor, a visão simplista das economias clássica e neoclássica não consegue interpretar tal realidade. Segundo ele, há um sistema coerente nas relações de troca do bazar mais complexo do que a mera força do hábito de seus frequentadores aparenta a princípio. Assim como Braudel (1999), Geertz trabalha o conceito de troca como todas as relações onde dois ou mais indivíduos intercambiam algo, podendo envolver ou não dinheiro, ultrapassando por isso as relações de compra e venda diárias.
Existem pactos sociais diversos sustentados pelos sentimentos de pertencimento comum e reciprocidade, por meio de regras e disposições estabelecidas e produzidas social e historicamente no bazar ou no mercado, constantemente restabelecidas e ou reinventadas por seus frequentadores buscando a normatização de ações e práticas. “O costume, o peso acentuado do hábito social, fornece muito desta força em qualquer sociedade” (GEERTZ, 1979, p. 193) reforçados socialmente pelo ritual, pela lei e pelo governo. Em muitos casos, sacramentar ou patrimonializar o bazar/mercado é a forma mais eficaz de manutenção de sua dinâmica social.
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