Vanessa Santos – SENAC-CE
Em 2003, a Unesco realizou uma convenção com o propósito de salvaguardar as culturas populares e decidiu substituir o termo “cultura tradicional e popular” por “patrimônio cultural imaterial” e, mesmo não sendo um conceito considerado preciso, constituiu valorada ação de intenção de proteção dentro do processo representativo cultural dos vários grupos sociais do mundo.
O termo absolutamente não encerra um assunto tão vasto, principalmente levando em consideração todas as transformações e inserções culturais que se mantém existindo em diversos espaços. As culturas populares tangenciam folclore, cultura oral, cultura tradicional, hábitos alimentares, valores religiosos e todo um espectro de representações e comunicação que, não raro, apresentam-se de forma híbrida e complexa.
No Brasil, corroborando com os ideais de outras instituições mundiais, o Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, entidade vinculada ao Ministério da Cultura, afirma que os bens culturais de natureza imaterial dizem respeito àquelas práticas e domínios da vida social manifestadas em saberes, ofícios e modos de fazer, celebrações, formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas.
De acordo com o Instituto, o patrimônio imaterial é vivo, “constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana”.
Fazendo um recorte explicativo, dentro das festas populares, mencionamos as festas juninas. Pode-se afirmar que as seculares festas de São João se constituem em tradição no Brasil, originárias de áreas rurais, apresentando uma distribuição espacial pontual (encontros entre familiares) e repetitiva (reuniões no entorno das fogueiras).
Originalmente essas festas, carregadas de símbolos, foram criadas no período Anglicano, com o objetivo de comemorar as boas colheitas de alimentos. Inicialmente eram consideradas pagãs, devido à presença do fogo, mas eram tão fortes e representativas, que mesmo depois do Cristianismo ser considerado a religião oficial da humanidade, as festas não foram combatidas e sim, incorporadas no calendário.
Compõem como um dos padroeiros, Santo Antônio, comemorado na véspera 12 de junho, sendo ele patrono dos pobres e namorados, invocado também para encontrar coisas perdidas. Foi o único dos santos escolhidos que não é contemporâneo de Jesus. No seu dia, são distribuídos os “pãezinhos de Santo Antônio” para as mulheres que buscam maridos.
São João, comemorado nos dias 23 e 24 de junho, era primo de Jesus Cristo e precursor da missão do Messias. São Pedro, comemorado no dia 29 de junho, é o santo dos chaveiros, porteiro do céu e dos pescadores. Cada santo tem sua fogueira representativa: a fogueira quadrada é de Santo Antônio, a fogueira redonda é de São João e a fogueira triangular é de São Pedro.
O período de festas juninas da capital do Ceará, Fortaleza, que normalmente acontece no mês de junho, é anunciado pela Prefeitura de Fortaleza e pelo Governo do Estado do Ceará, como o maior São João de Capital do Brasil. As atrações vão desde os concursos de quadrilha, shows de grandes artistas locais e nacionais, cidade cenográfica e espaço gastronômico com comidas típicas, entre elas a base de milho (canjica, pamonha doce e salgada, mungunzá doce e salgada e bolo), macaxeira (pé de moleque, bolo de macaxeira e paçoca) e “pratinhos” (baião de dois, vatapá, creme de galinha, arroz branco, carne de sol acebolada).
São atividades culturais gratuitas para todos os públicos, mostrando que o período festivo junino não passa despercebido e recebe a importância devida diante de diferentes e grandiosas festas culturais pertencentes ao povo cearense. Eventos que trazem a cultura como tema costumam movimentar cifras grandiosas, através do turismo e da geração de empregos, e são de grande relevância para o reconhecimento e engrandecimento das tradições culturais nordestinas, tão enraizadas e esperadas pelo povo festeiro.
O cenário junino do Ceará mudou bastante ao longo dos anos. As quadrilhas ganharam muito destaque e surgiram os festivais de quadrilhas juninas. O foco hoje são as competições e nos festivais estão presentes as comidas típicas do festejo. Em Fortaleza, existem bairros com tradição junina que realizam as festas há anos, como o Festival de Quadrilhas do Bairro Ellery , Festival de Quadrilhas Pagode Sertanejo (no Conjunto Ceará, 29º ano), Festival Junino de Parangaba (9º ano), Festival de Quadrilhas Juninas do Jardim Guanabara (15º ano), Festival da Cumade Bárbara (na cidade 2000, 14º ano ), Flor da Bela ( Lagoa Redonda, 18º ano), Arraiá da Cumade Creuza (Parangaba, 10º ano), Festival Junino do Parque Costa Oeste ( Pirambu, 22º ano).
Esses eventos fazem parte do calendário de festas juninas de Fortaleza e procuram manter a tradição com a apresentação de quadrilhas e valorização da culinária regional.
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