João Lima – SENAC-PE

O bolo é símbolo de festa, de um momento especial. Presente em 99 dos 100 casamentos pelo mundo, sua história percorre o tempo, se transformando e se atualizando. Antigos romanos partiam um bolo - confeccionado com farinha, sal e água - na cabeça da noiva para simbolizar fertilidade ou abundância. As migalhas eram recolhidas e guardadas pelos convidados como amuletos de sorte. O trigo, símbolo de prosperidade, usado na confecção do pão, era um talismã para os noivos. Muitas outras culturas jogavam trigo, farinha ou bolo na cabeça da noiva e depois comiam os restos para terem sorte. Os primeiros britânicos assavam cestos feitos com biscoitos e cada convidado levava um pedaço para casa ao final da cerimônia.

Na Idade Média, os convidados levavam pequenos pedaços de bolo e os empilhavam em camadas sobre uma mesa. O costume era os noivos se beijarem por cima do bolo para garantir uma vida farta. Certa vez, um jovem panificador decidiu colocar todos estes pedaços juntos, unindo-os com um creme gelado, dando origem ao conhecido bolo de casamento em várias camadas. Símbolo de sorte e prosperidade, centro das atenções das comemorações do casamento, o bolo foi evoluindo, ganhou glacê e decoração especial.

Vem da França a concepção do bolo de noiva que conhecemos até hoje. Catarina de Médicis, ao se casar com Henrique II da França, foi a noiva pioneira em apresentar aos seus convidados um bolo de andares e decorado com glacê. No final do séc. XIX, os bolos podiam pesar até 200 kg e medir mais de dois metros de altura. Quanto maior e mais decorado fosse o bolo, mais importante seria a festa.

Hoje, cada vez mais requisitado e bonito, o bolo de casamento continua merecendo destaque na festa – figura central do momento máximo: o corte feito pelos noivos, acompanhado do brinde com o champanhe. A noiva pode até dispensar uma recepção mais completa, mas do bolo e do champanhe, ela não abre mão.

Nos Estados Unidos, o primeiro andar do bolo é congelado durante um ano. Na primeira boda, ele deve ser comido pelo casal para celebrar a alegria dos dias vividos e os muitos que ainda virão pela frente. Hábito compartilhado pelos noivos pernambucanos que guardam seu bolo de frutas para comer no primeiro ano de casamento.

Algumas tribos sul-americanas e nas ilhas Fidji também incluem os bolos nas suas cerimônias.

No Brasil, o bolo está presente em todos os casamentos e de todas as formas e sabores possíveis: chocolate, damasco, com recheio de frutas, branco, colorido, grandes, pequenos e até de cabeça para baixo. Só tem uma receita que se diferencia de todas: o bolo de noiva pernambucano. Nosso bolo é único e totalmente diferente de todas as outras receitas de bolo de noiva: massa escura, rica em frutas como ameixa, passas e frutas cristalizadas, vinho tinto doce, especiarias e cobertura de glacê mármore para coroar com nosso maior símbolo de riqueza branca: o açúcar.

Sua inspiração vem dos bolos ingleses trazidos por estes no início do século XIX, porém sua utilização em festas de casamento remonta ao século XVII. Nessa época eram feitos dois bolos, um para o noivo e outro para a noiva. O bolo do noivo geralmente era escuro e feito com frutas, simbolizando fertilidade e prosperidade. O bolo da noiva, porém, era branco e coberto com glacê de açúcar, simbolizando pureza e virgindade. Quando a rainha Victoria usou glacê branco em seu bolo, este se tornou o glacê real. A cor branca do vestido de noiva também foi influenciada por ela.

Mesmo em Pernambuco, o bolo de noiva feito com frutas sofre algumas variações a depender da mão de quem faz. Alguns podem ser adicionados de doce de goiaba, feitos apenas com ameixa, vinho moscatel ou vinho do porto. Outras frutas secas também podem ser usadas: damasco, tâmaras, cereja, etc. Há variações em relação à sua textura, alguns são mais pesados, úmidos, outros podem ser mais leves e se desmanchar na boca. O que não falta em nenhum deles é a identidade genuinamente pernambucana.

RECEITA – BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO

Ingredientes Quantidade
Manteiga sem sal 250 g
Açúcar refinado 250 g
Farinha de trigo 250 g
vinho moscatel 200 ml
essência de baunilha 5 ml
fermento 20 g
ameixas secas sem caroço 250 g
açúcar mascavo 100 g
passas 250 g
frutas cristalizadas 250 g
Ovos 4
Raspas de limão e laranja 1 limão e 1 laranja
noz moscada em pó 1 pitada
Sal A gosto

 

PREPARAÇÃO

Leve ao fogo a ameixa, o açúcar mascavo e 80 ml de água. Deixe ferver em fogo baixo até formar um doce espesso.

Junte as uvas passas e as frutas cristalizadas e passe pelo processador junto com o vinho moscatel.

Na batedeira, bata o açúcar refinado com a manteiga sem sal até formar um creme.

Junte os ovos um a um até que estejam todos misturados homogeneamente.

Desligue a batedeira e acrescente a farinha de trigo peneirada alternando com as frutas.

Por último, misture delicadamente o fermento em pó, as raspas de laranja e limão, a noz moscada ralada, essência de baunilha e o sal.

Leve para assar em forno pré-aquecido a 160°c por aproximadamente 1h e 30min.

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