Valdir Vieira dos Santos - SENAC-SE

Mangaba é o fruto da mangabeira (hancornia speciosa), típica da restinga e comum nas cidades do litoral sergipano, mais concentradas no centro-sul. Tolera seca e terra sem nutrientes, por isso é tão abundante no estado. A maior parte da produção ocorre entre os meses de outubro e abril, período em que o tempo em Sergipe é mais seco e quente. A fruta é rica em Vitamina C, ligeiramente ácida e leitosa e com ela se produz sucos, geleias, compotas, sorvetes, entre outros produtos.

CATADORAS DE MANGABA

As “Catadoras de Mangaba” é uma associação de mulheres que vivem da produção da mangaba, contudo a faziam de modo amador e sem instrução. Graças ao apoio de iniciativas público-privadas, como o Prodetur, Projetos da Universidade Federal de Sergipe, Petrobrás, entre outros, a associação vem prosperando e tomando maiores proporções a cada dia.

Tainá, uma das “catadoras de mangaba”, do povoado Ribuleirinha (situado na cidade de Estância, 68 km de distância da capital sergipana) explica, com suas palavras, como se deu o início da associação em sua região e nas regiões contempladas pela associação:

“Então, o projeto na verdade apareceu para gente através de um movimento. O movimento das catadoras de mangaba daqui do estado. Que trouxe para gente a associação mãe, e fez esse projeto pra gente conseguir quatro lugares produtivos. Na verdade, era pra ser muito mais, mas a verba só conseguiu comprar quatro terrenos e construiu quatro associações onde ficam localizadas: uma em Indiaroba, uma aqui em Estância, aqui no povoado Ripuleirinha, uma em Japaratuba e uma na Barra dos Coqueiros. As mulheres trabalham aqui e nas outras associações. As mulheres se reúnem, faz a coleta da mangaba, trás pra associação. A gente produz, no final do mês a gente divide. E assim… olhando antes do projeto… a gente só passava a mangaba para o atravessador ou vendia na feira e o que não vendia se estragava porque[…] a gente não imaginava que poderia congelar pra trabalhar depois. Depois desse projeto, fizemos cursos e assim estocamos a fruta, mangaba a gente só estoca 6 meses. Assim podemos utilizar a fruta durante o restante dos meses, que não tem como a gente produzir. Trouxe uma renda, uma garantia … e a gente, mulheres, leva o sustento daqui pra levar pra casa. Consegue dividir as despesas hoje com o marido pra pagar as contas. Graças ao trabalho que a gente vem desenvolvendo.”

Além desse relato, alguns estudos mostram a importância dessa associação na vida das mulheres que catam a mangaba no estado. Jesus (2017), em sua dissertação de mestrado, analisa a situação da associação em Barra dos Coqueiros:

É evidente que o fator econômico se mostra com maior relevância para o desenvolvimento do extrativismo da mangaba em Barra dos Coqueiros. A necessidade de melhorar a renda principalmente pelas mulheres resultou na transferência de saberes tradicionais de um lugar para outro permanecendo assim a forma de sustento familiar e a perpetuação do conhecimento extrativista. Nesse sentido, as mulheres catadoras de mangaba transformaram o espaço praticamente inutilizado, em territórios fecundos de extrativismo da mangaba construído das relações cotidianas presentes em suas diversas formas de trabalho advindas da mangaba (Patrícia Santos de Jesus. Dissertação de Mestrado: Tessituras, tramas e territorialidades das catadoras de mangaba na Barra dos Coqueiros-SE. – São Cristóvão, UFS, 2017, p. 157- 158)

A partir da associação, foi elaborada uma linha de comercialização baseada nas práticas tradionais das comunidades, produzindo balas, licores, biscoitos, bolos bombons, entre outros. Foram também ampliadas as frutas da restinga que se tornaram base para esses produtos, a exemplo do cambuí, murici, araçá e cambucá.

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