FESTAS
A festa surge tanto a partir dos calendários agrícolas, relacionados às estações do ano para o plantio e a colheita, quanto das formas de buscar numa divindade uma aliança que une a fé com o lúdico e, ainda, para marcar os ritos de passagem de pessoas e de comunidades, entre outros motivos sociais e culturais.
Todos esses processos, que fundamentam a construção da festa, são cada vez mais valorizados pela busca da preservação e da transmissão dos muitos conhecimentos reunidos, na sua maioria, nos acervos ou nos repertórios da sabedoria tradicional.
Essa sabedoria tradicional nasce com a técnica de descascar vagens de feijões, de peneirar farinha da mandioca, de ralar raízes, de assar as massas nos fornos. Assim, poder trazer os aspectos da natureza, que agora são transformados e ritualizados, tornando-se celebrações, festas.
Festas de famílias, de comunidades, de regiões, de países, de civilizações e povos, querem reunir e possibilitar experiências coletivas com música, dança, teatro, religiosidade e, especialmente, comida. Porque festejar, pode-se dizer, é o mesmo que comer.
As festas são conhecidas e vividas nos seus cardápios e nas suas diferentes maneiras de oferecer e servir comida. Na festa há algo de sagrado que une a pessoa à divindade, estabelecendo-se elos com os ingredientes, com a estética dos pratos e com as inúmeras possibilidades de celebrar por meio dos sabores.
Assim, a festa é culminância, é ruptura do cotidiano, é afirmação de papeis sociais; é transgressão das regras, é culto coletivo, é interação com mitos e deuses; é um diálogo ampliado com a natureza.
Raul Lody
FESTIVAIS GASTRONÔMICOS
O campo da gastronomia, nos contextos nacional e internacional, tem cada vez mais recebido o interesse do consumidor e da mídia. Assim, comer, conhecer comidas, reconhecer receitas e ingredientes, valorizar estilos culinários e cozinhas regionais, formam comportamentos e interesses diante do que se entende como símbolo, sabor e nutrição, ou seja, a comida.
Comidas nas casas, nos restaurantes, nos bares, nos tabuleiros, nas vendas ambulantes, nos aplicativos, entre outros, mostram as muitas e diferentes maneiras de se viver o cotidiano da alimentação.
Comer é um ato social, mesmo quando se come sozinho, porque a comida é capaz de revelar memórias, histórias e comportamentos.
Comer em público, enquanto um ato coletivo, torna-se uma experiência inicialmente interativa e que possibilita variados diálogos interpessoais que se dão nos contextos da comensalidade.
E um dos lugares mais notáveis para essas experiências coletivas e sociais são os festivais gastronômicos, que se organizam sobre diferentes temas e motivos. Ingredientes, calendários das colheitas, produção de alimentos, comemorações de datas, lançamentos de marcas, reativação de consumo, novos alimentos, entre outros, fazem as bases das celebrações em torno do ato de comer.
São muitos e diferentes os tipos de festivais gastronômicos. Enquanto uns revelam terroir, região e matrizes étnicas, outros revelam consumos globalizados, ampliados pelos instrumentos da dinâmica multimídia. Assim, cada festival gastronômico traz uma história particular, quer mostrar e possibilitar experiências com comidas e bebidas, e por isso assume papéis socializadores e lúdicos.
Os festivais gastronômicos são também importantes meios para a circulação de produtos e para facilitar o acesso a seu consumo, a diferentes públicos, em diferentes cenários econômicos e sociais.
Raul Lody